Isadora Dias
De meados de julho até hoje, as queimadas consumiram cerca de 23% de toda área do Pantanal mato-grossense e já causaram diversos danos a fauna e flora local, além de ter destruído propriedades dos agricultores familiares e das comunidades indígenas em todo estado de Mato Grosso. Sem auxílio dos órgãos governamentais responsáveis, os proprietários estão tendo que se organizar voluntariamente em grupos para extinguir o fogo e salvarem suas terras, plantações e casas. Tais ações são perigosas e geram risco a vida e saúde dos indivíduos, visto que muitos não possuem os EPIs necessários para realizá-las.
Segundo Mário Friedlander, coordenador de uma brigada rural voluntária, é visível o desrespeito com o meio-ambiente e a legislação ambiental diante do grande desmatamento, acúmulo de lixo e nascentes secas, coisas as quais facilitam o início de fogo nas matas. “Eu e minha esposa somos brigadistas e estamos nos sentindo bem, porque sabemos que estamos dedicando um esforço enorme a uma boa causa. É algo em prol da natureza, dos vizinhos, da comunidade. Em algumas vezes, fico irritado com a falta de apoio, mas isso passa”, enfatiza o brigadista.
Josita Priante, integrante do Fórum Estadual de Economia Solidária, afirma que já haviam discussões acerca das queimadas, mas que tais não abrangiam o estado de Mato Grosso. Eles só conseguiram uma sensibilização das pessoas no Fórum Territorial de Segurança Alimentar e Nutricional Cuiabana, quando incêndios destruíram roças no município de Nossa Senhora do Livramento (32 km de Cuiabá). O tema foi posto em discussão no Fórum com o intuito de debater formas de combate e reconhecer alguma forma de orientação. A partir disso, começaram a organizar grupos nas zonas rurais que demonstravam interesse no voluntariado de combate ao fogo. Ter um grupo de no mínimo 30 pessoas é uma das exigências para realização de um projeto junto ao Corpo de Bombeiros e a Secretaria do Estado e Meio Ambiente – SEMA, que requisita recursos de alimentação e material de proteção aos brigadistas.
“A necessidade de organizar permanece, tendo em vista que é recorrente o fogo na região. No entanto, estamos com dificuldades em agrupar pessoas para projeto na região de Cuiabá e municípios próximos”, salienta Josita.
Josita diz que é necessário um apoio maior, um incentivo e uma divulgação massiva por parte do Estado. “É necessário que haja mais sensibilização para esse grande problema, mas o Estado sempre diz que não dispõe de estrutura suficiente para combater os incêndios”, revela.
Rose, professora e presidente da Cooperativa Nossa Senhora do Livramento – COOPANSAL, diz que as queimadas trouxeram muitos impactos negativos para a Comunidade Vila das Palmeiras, localizada no município de Santo Antônio do Leverger (33km de Cuiabá). Ela afirma que muitos moradores estão se sentindo impotentes diante da destruição das mangueiras de irrigação e das plantações nas propriedades.
Viviane Guedes, ecologista e professora no Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso, salienta que o fogo significou a destruição de uma grande área verde, dos habitats e morte de muitos animais, “o impacto na vegetação e sua possível regeneração é apenas um aspecto que a gente tem que estar atento, populações animais reagem de maneiras diversas às adversidades ambientais”.
Comunidades Indígenas
Tapi Yawalapiti, o novo líder de um dos mais importantes e respeitados povos do Território Indígena do Xingu, afirma que as queimadas na aldeia tiveram início no começo de junho e que o tempo seco gerou descontrole do fogo na região. Segundo ele, muitos incêndios têm início em grandes fazendas e estão posteriormente atingindo o território.
Além disso, mesmo com ajuda de voluntários, o número baixo de brigadistas no Xingu dificulta o controle das chamas. Tapi diz que manter a preservação das florestas é fundamental para todo planeta, pois diminui os danos causados pelo aquecimento global. O novo cacique também fala sobre as más declarações do Governo Federal, “o Governo acusa a população indígena e ribeirinha de botar fogo nas florestas, isso é decepcionante porque nós somos os guardiões da natureza, nós lutamos pela preservação dela”, finaliza.