Isadora Dias
Os agricultores familiares, assim como muitos outros trabalhadores, tiveram sua produção e comercialização intensamente afetadas pela pandemia da Covid-19 e por todos os impactos negativos dela. A Jaqueline Cristiê da Silva, mora há 14 anos na Comunidade Grota Seca e produzia alimentos para composição de merendas escolares no município de Rondonópolis (200km de Cuiabá), local onde mora. No entanto, Jaqueline afirma que suas entregas foram interrompidas pelo fechamento das escolas, o qual ocorreu em decorrência da recomendação de não-aglomeração da Organização Mundial da Saúde – OMS. “Tive um grande prejuízo e estou passando por muitas dificuldades, tive que me reinventar”, enfatiza a agricultora familiar.
Atualmente, para seu próprio sustento durante o momento atual, a produtora está realizando sua reinvenção com mudanças na forma de produção, produzia de forma convencional, depois migrou para orgânica e agora está na forma natural. “Estou fazendo pequenas produções de couve, rabanete, beterraba, jiló, quiabo e vendendo diretamente ao consumidor através de alguns contatos, mas a venda está sendo pouca, assim como a produção”, conta Jaqueline. Ela diz estar dando passos lentos nessa nova forma, pois diz não poder se comprometer e deixar o cliente na mão, além de aprender corretamente a lidar com a produção natural antes de ofertar uma gama maior de produtos.
Para a agricultora, também é importante a certificação de que tudo está seguindo a linha correta de produção da agricultura natural, para que assim seja possível obter uma que consiga sanar todas suas necessidades. No entanto, a falta de água, a falta de equipamento e uma grande desatenção governamental cria muitos obstáculos para Jaqueline, que realiza todo plantio, colheita e comercialização sozinha, “existe uma dificuldade de água, não tenho os equipamentos necessários para trabalhar e melhorar a produção, por isso tenho que seguir com passos pequenos”, enfatiza.
Apesar disso, Jaqueline cita duas pessoas que foram importantes ao seu desenvolvimento, a funcionária Elaine da Empresa de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural – EMPAER e a produtora Silvânia, produtora há mais de 30 anos, entregadora do modelo CSA e quem a apresentou o modo de produção natural. Elaine, segundo Jaqueline, faz um trabalho necessário no seu encaminhamento de compra, “quando eu trabalhava de forma convencional, eu busquei auxílio da EMPAER e foi lá que eu conheci a Elaine, entusiasta da produção orgânica e quem me direcionou para o modelo CSA, que só comercializa produtos orgânicos”.
Outra forma de produção e venda encontrada, até que a plantação seja suficiente para o pleno sustento, foi a de vasos ecológicos de bambu com quatro mudas de morango, vendidos ao preço de 50 reais. Priorizar uma forma sustentável e ecológica de produção é algo importante para Jaqueline, que por realizar todo trabalho sozinha, deseja um motocultivador para ajudar no trabalho.
A produtora diz que apesar dos obstáculos, há pessoas que confiam no seu trabalho árduo e que vale a pena lutar e persistir, “penso que tudo que você vai fazer na vida é um desafio, mas se você acredita naquilo que está fazendo e que suas atitudes vão impactar positivamente, não só para si próprio mas para toda uma Comunidade, vale a pena lutar e persistir”, finaliza.